sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Uma consulta legal, mas não tão legal assim

Oi!
Cá estou novamente... Um mês fora, pois estava aproveitando as férias, e essas foram de verdade, inclusive foi um mês sem médicos, consultas ou exames... O paraíso! Hehehehe. Mas, voltando à realidade... A primeira semana já começou com uma consulta, e até o fim do ano a agenda continua cheia! Teremos ainda, não necessariamente nesta mesma ordem, revisão da onco, revisão da radio, limpeza de cateter, fisioterapia da coluna, ressonância da coluna, ultra sons da região pélvica, exames de sangue e urina, colonoscopia, ortopedista, proctologista e ginecologista. E este ano quero ainda ter uma "conversinha" com o médico especialista em reprodução! Ufa! Esses foram o que eu lembrei!

Hoje voltei lá na clínica especializada em problemas do assoalho pélvico. Fiquei de levar um resumão dos meus exames que exemplificam a situação para Dra. Eveline definir o que fazer comigo, já que o meu caso é um tanto quanto fora do comum, uma menopausa e atrofia vaginal precoce, diferente do que acontece com as mulheres em geral. Dra. Eveline é o tipo de médica que sabe dar notícias ruins sem te fazer ficar se sentindo mal, não sei o que é, ela tem um rosto, uma fala, um jeito muito amáveis e agradáveis, eu realmente gosto muito dela.

Ela já foi me dizendo que conversou com a outra médica e juntas concluíram que a fisioterapia não vai ser possível no meu caso. E também não fará uso de hormônio nem mesmo local (a pomada com estrogênio). Nossa... Fiquei super triste, mas... Paciência. Ela me disse que ainda está muito recente do tratamento, e tem dois poréns. Um é o fato da região estar muito sensível e fazer a fisio aumentaria o risco de desenvolver alguma infecção. E o segundo fato é que ainda estou no período de "controle" de risco da doença voltar... Óbvio, não é o que ninguém quer ou espera, mas elas precisam contar com esse fato, que se começasse o uso do estrogênio e de repente o câncer voltasse... Enfim, não é o ideal no momento.

Poxa, fiquei super triste, e com vontade de chorar, mas me controlei né... Mas aí ela foi e enfatizou que o importante é que eu preciso sair do tempo de risco, ela deu pelo menos uns 2 anos. Então ela falou do tratamento alternativo... Que são dois medicamentos, o primeiro é o Vagidrat, segundo ela, cria uma película no canal vaginal, e hidrata sem ser à base de hormônios. Apesar de não ser indicado para uso diário, ela pediu pra usar diariamente... E que isso vai proteger e hidratar. Mas primeiro faremos o teste por um mês, e dependendo do resultado ela vai para o próximo medicamento, que ela comentou e eu realmente não lembro qual é. Dependendo do resultado ela vai para o próximo.

Ela disse que a fisio no meu caso não ajuda e aí tem que esperar mesmo, pois a musculatura tende a relaxar com o tempo. Ela disse que o corpo ainda sofre os efeitos da radio, e a tendência é isso melhorar. Vai ser doloroso? Vai. Vai ser difícil. Muito. No caso o ideal seria o hormônio, mas infelizmente não vai ser possível agora. Ela é uma profissional que tem muito tato... Por isso gosto dela, já foi dizendo que vou precisar de muito apoio da pessoa ao meu lado, e que acredita que eu tenho isso pois, já estamos juntos a muito tempo e ele esteve ao meu lado em momentos muito mais difíceis que este, que foi o da doença. Então, nossa vida de casados vai ser difícil, mas nisso eu tenho certeza e não me preocupo pois sei que tenho a pessoa certa ao meu lado.

Cheguei a comentar com ela dos diversos casos que encontrei de algumas mulheres até mais novas que eu que tiveram o mesmo tipo de CA, ou parecido, e passaram por radioterapia pélvica. Contei que lá nos EUA a primeira coisa que perguntam quando vai iniciar o tratamento é o que você quer fazer para preservar a fertilidade... Uma fez o congelamento, outra suspendeu os ovários... Dra. Eveline comentou que infelizmente estamos um pouco atrasados em relação aos EUA, não temos a mesma bagagem e nem o mesmo desenvolvimento que eles têm, aqui corremos logo para tratar a doença, que ainda é vista como algo fatal. Mas a verdade é que a cada dia o tratamento vem sendo cada vez mais efetivo. Precisamos mudar o pensamento... Ao mesmo tempo ela já foi me dizendo que eu não posso ficar pensando nessas coisas, que preciso me concentrar que o principal era a vida, que os médicos, meus familiares e até eu mesma na hora do diagnóstico, não pensamos nas consequências. A vida veio primeiro, e é o mais importante.

Não deixa de ser muito triste, e eu realmente sempre choro quando toco ou penso nesse assunto. Então é melhor deixar de lado e realmente fazer o que posso, que está ao meu alcance. Por isso a consulta foi legal, mas não tão legal assim... Passei o resto do dia um pouco triste por lembrar tudo isso de novo, e ver mais uma vez minhas esperanças irem por água abaixo, eu realmente botava fé nesse tratamento. Mas, não sou eu quem define o que é melhor pra mim, né?



"Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir por não perceber sua simplicidade." 
Mario Quintana

Vim pensando no ônibus sobre a quantidade de coisas que eu desejei como sonho, como significado de felicidade pra mim, e concluí que o câncer e algumas outras doenças têm a capacidade de te fazer perceber felicidade em tudo aquilo que é extremamente corriqueiro para a maioria das pessoas... A cada dia que passa, meu ideal de felicidade e alegria fica mais distante. Ter um filho, engravidar, por exemplo, deixou de ser sinônimo de felicidade e alegria, agora passa a ser tristeza, descrença e insistência.

Eu achava que meu ideal era algo simples de alcançar, uma vida simples, um bom trabalho, uma casa, um amor, uma família... Hoje, por exemplo, depois da consulta, vim no ônibus pensando em mais uma decepção, lembrei dos dias de quimio, do dia do diagnóstico, e vi que a felicidade que a vida dá pra mim é apenas poder beber um copo de água gelada. Comer comida chinesa e não vomitar. Ter forças pra levantar da cama. Tomar um banho de cabeça e não desmaiar. Andar de ônibus e sentir o vento no rosto pela janela. Pesar 49 kg, o cabelo caindo, olheiras fundas e boca cinza e alguém te amar mesmo assim. E por aí vai... Coisas assim. Nada mais.


Aproveitando uma boa paisagem.